sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

a última vez que eu ri de verdade
as roupas estavam recém-lavadas
seu cabelo recém-raspado
e enquanto me ajudava
a estendê-las 
no varal já ocupado por 
uma preguiça antiga
levava sopapos 
ensopados
no couro cabeludo ardente
num dia nem assim tão quente 
suponho até que o vento
te imitava 
performando o silêncio 
dos que suportam 
os desconfortos
são eles tantos 
mas não tanto foi aquele
porque então irrompeu 
no riso do ridículo
daquela cabeça imersa 
num túnel de panos 
de chão gelados
meu deus
meus dentes
saíram da boca
e nem tão longa ou alta assim
foi a risada
pra dizerem ‘que tanta graça ela viu’
mas eu vi
e eu ri
sem saber que
seria essa 
a última vez que eu ri de verdade

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