as roupas estavam recém-lavadas
seu cabelo recém-raspado
e enquanto me ajudava
a estendê-las
no varal já ocupado por
uma preguiça antiga
levava sopapos
ensopados
no couro cabeludo ardente
num dia nem assim tão quente
suponho até que o vento
te imitava
performando o silêncio
dos que suportam
os desconfortos
são eles tantos
mas não tanto foi aquele
porque então irrompeu
no riso do ridículo
daquela cabeça imersa
num túnel de panos
de chão gelados
meu deus
meus dentes
saíram da boca
e nem tão longa ou alta assim
foi a risada
pra dizerem ‘que tanta graça ela viu’
mas eu vi
e eu ri
sem saber que
seria essa
a última vez que eu ri de verdade
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