segunda-feira, 30 de março de 2020



só se entende a tragédia 

quando o gosto vem toda manhã 

não importa se

solar 

penumbra

com trilha

ou sem

a primeira coisa que eu 

disse pra ela foi que pena

só nos conhecermos agora que

já morri

ela disse que não era verdade

eu não acreditei 

mas sorri

tenho feito muito isso

toda quarta feira escuto 

que é preciso ter mais 

paciência 

é sempre um silêncio

e um sorriso

coreografias de 

sobrevivência 

eu acho que 

há algum tempo 

eu tenho tido

uma nova profissão 

sábado, 16 de fevereiro de 2019

eu e o envelope
que nunca é aberto
sempre à distância
do alcance das mãos
somos um se
o que há por dentro
faz aguar
os olhos
não seria esse
então
o primeiro sinal de
desafogamento

eu e o envelope
que nunca é aberto
somos um se
sempre à distância
do alcance das mãos
faz aguar
não seria esse
então 
o primeiro sinal de
o que há por dentro

sábado, 12 de janeiro de 2019

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

hoje acordei 
com a sensação de que me viraria
e com braços dormentes 
alcançaria 
o corpo que 
em acordo 
amanhecia 
ao meu lado por
curtos 
anos

quando eu diria 
que um dia escreveria
curtos
anos
e não me importaria
com a rima impositiva
terminação agonizante
o sufixo arrependido
uníssona sinfonia
mas

quando eu diria
que por qualquer reparo eu 
ia

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

a última vez que eu ri de verdade
as roupas estavam recém-lavadas
seu cabelo recém-raspado
e enquanto me ajudava
a estendê-las 
no varal já ocupado por 
uma preguiça antiga
levava sopapos 
ensopados
no couro cabeludo ardente
num dia nem assim tão quente 
suponho até que o vento
te imitava 
performando o silêncio 
dos que suportam 
os desconfortos
são eles tantos 
mas não tanto foi aquele
porque então irrompeu 
no riso do ridículo
daquela cabeça imersa 
num túnel de panos 
de chão gelados
meu deus
meus dentes
saíram da boca
e nem tão longa ou alta assim
foi a risada
pra dizerem ‘que tanta graça ela viu’
mas eu vi
e eu ri
sem saber que
seria essa 
a última vez que eu ri de verdade

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

me obrigo
a respirar outros corpos
que vez ou
outra até 
me enchem os pulmões 
mas
é no sono rendido
desprotegido
que você entra e 
me afoga
numa maré de
não
não
não
não
não
não 

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018



dois mil e dezoito

de todos os
abandonos
que esse 
corpo sofreu
o maior
foi o meu

domingo, 16 de dezembro de 2018

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

um corpo ou
universos
um corpo ou 
unir versos 





i wrapped my heart
once again
but this time
there was no
ribbon on it
i tried
to give it to you
but it wouldn't work
anyway
once i noticed
it wasn't gift paper
it was
bubble wrap